domingo, 14 de novembro de 2010

Merda Educacional Crônica II: O Ensino Como Bem de Consumo

É triste, mas o que existe hoje é uma industria que fabrica e vende educação, o ensino virou um bem de consumo, você paga por ele, você compra ele, você consome ele, se você não tem dinheiro, você fica de fora. E fica mesmo! O Estado, durante muito tempo em que viveu atrelado ao FMI, teve que, infelizmente, cortar gastos, se valendo de medidas provisórias e políticas de ajustes, e dentro dessas políticas, houve a necessidade de economizar no ensino para poder investir em um outro setor da economia, infelizmente, a maneira mais fácil de evitar uma confusão educacional foi privatiza-lo, e como isso foi feito? O Estado deu incentivos as escolas particulares, esse ato de passar a responsabilidade Estatal para um ente privado, se chama privatização. E como qualquer empresa que vende educação não tardou para essa só querer resultados para que assim mais alunos passasem a consumir o seu ensino, esquecendo totalmente da pessoa como ser humano, transformando seus alunos em máquinas resolvedoras de x e desmerecendo totalmente a formação da pessoa como cidadão de uma nação baseados em fortes conceitos de ética e de formação de caráter. Esse ato de gerir a escola buscando resultado leva aos alunos uma consciência de competição, que resulta em pessoas individualistas, competitivas, que na sua frente te elogia e por trás te trai e sem um pingo de humildade. Graças a isso, por ano, os grandes conglomerados educacionais estão jogando nas universidades jovens totalmente alienados, sem saberem o que querem da vida, que não se portam como universitários dignos, e sim, como meninos da escola, logo, as universidades acabaram virando uma mera continuação de colégio.

Grandes conglomerados? Sim, conglomerados educacionais. As atuais escolas, visando APENAS e ACIMA de tudo o lucro, vão fazer impossível se tornar possível para que seus alunos estejam na lista de primeiros colocados do ITA, IME, USP, UNB, UNICAMP e derivados, e para atingir tal objetivo, passaram a fabricar os seus próprios livros, a comprar as pequenas escolas que tinham um generoso índice de aprovação, levar sua metodologia de ensino para outras escolas, essas ações são todas ações de cunho monopolista, onde as gigantes brigam entre si visando expandir e colonizar escolas menores com sua metodologia e ideologia competitiva doentia. E tudo isso por que? Por que existe algo chamado vestibular por trás e quanto mais aprovar alunos nele significa dizer que vários irão pagar caro pelos seus serviços, e pela lógica, quanto menos concorrentes melhor, pois você se tornará hegemonico, ganhando assim mais dinheiro ainda. Viram? Puro empresariado! É como fumar cigarro, para cada morto, a empresa tem que garantir 5 novos viciados. Por isso não se iluda, a escola do seu filho, ou, a sua escola, NÃO liga para você, NÃO gosta de você, você NÃO é um ser humano para eles, e sim, um cifrão -> $, é isso que você é! Infelizmente, a pedagogia morreu. E a cada dia que passa, analisando os casos de bulling, de professor apanhando de aluno, de falta de controle do professor em sala de aula, do professor que não tem paciência para o aluno contemporâneo, alunos que se portam como pirralhos de 8 anos, podemos comprovar que sim, infelizmente a pedagogia morreu! Pois esses casos provam isso.

Poderia ficar pior? Pior que pode, e está! Essa ação, essa maquina, besta do apocalipse devoradora de jovens e crianças, conseguiu, ao monopolizar o ensino, quebrar, literalmente, as já débeis escolas publicas. E ainda vou mais longe, geraram uma desigualdade intelectual tão gritante que impossibilitaram qualquer aluno de escola publica de passar em uma prova de vestibular, por que a concorrência com essas escolas particulares tornou-se simplesmente desumanas, o nível da concorrência tornou-se tão alto, que em Estados onde essa cultura de aprovação em vestibular é louca, como em Sergipe por exemplo, você só é considerado aprovado em vestibular se passar entre os 20 primeiro colocados em alguma federal de peso, se isso não ocorre você é discriminado e humilhado pelos seu próprios colegas em sala de aula! Por isso, fazer universidade particular nesse Estado nem rola, pois você será tido como burro e incapaz pela população local. E criatividade para colocar esse povo para estudar é o que não falta! Criam-se competições de simulado de provas de universidades de nome e peso entre colégios, corujões, que para quem não sabe é quando a escola da aula 24 horas, com revisões truques e dicas, banners são dados as familias que tiveram filhos aprovados na prova com o nome do curso bem grande e a foto do aluno, primeiros colocados em vestibulares ganham carros, notebooks, viagens, só faltam dá uma casa! Quando a escola vê que em outra escola esxiste um aluno que passara entre os primeiros colocados em um ITA ou USP elas simplesmente PAGAM ao aluno para mudarem de escola, e pagam também pela permanência dele na mesma! É quase um time de futebol, onde se compram e vendem jogadores.

Esse comportamento doentio e paranóico gera uma gravíssima situação social. Visando conseguir da conta das cobraças escolares e familiares, os jovens varam a noite estudando e ainda tem que acordar cedo para poder assitir às aulas, para da conta de toda essa carga de estudos, a maioria recorre à drogas, energéticos, misturas loucas, e por conta disso, em época de vestibular os hospitais lotam de jovens tendo overdose medicamentosa de estimulantes e/ou calmantes para conseguir estudar tudo e mais um pouco. E quem não pode apelar para as drogas licitas acabam usando as ilicitas, principalemtne a cocaína, ficar ligadão e conseguir estudar tudo! Estudar! Estudar! Estudar!
Os docentes também, os professores que se projetam nesse cenário das escolas particulares são disputadissimos, muitos chegam a receber mais de 20.000 reais para ser exclusividade daquele colegio. As campanhas publicitárias focam e mostram toda a equipe de professores como em uma vitrine, uma exposição de cães premiados. Ou seja, o comércio chega até aí como um leilão de pessoas, professores prostituindo seu intelecto para os conglomerados educacionais e esquecendo do principal: educar. Mas, pela lógica empresarial isso é irrelevante, o que eles buscam é resultado para terem dinheiro, muito dinheiro, então quem melhor fizer a lavagem cerebral vai ser sinistramente disputado no leilão educacional, quem dá mais?

É... A realidade é cruel, TUDO, simplesmente TUDO, faz uma lógica mercadológica, os alunos, os professores, as escolas, o ensino... Produtos, trocas, mercadorias... Mas e as pessoas? Bem... Pessoas!? Que é isso?! Não existe espaço para a pessoa, para o ser como gestor de si mesmo, não tem tempo para isso, pois, tempo é dinheiro, e para ganhar dinheiro dessa forma você atola seus alunos de exercícios, simulados, testes para que eles nunca parem de estudar. O resultado é um quadro sociológico complicado, onde vemos uma geração de pessoas sem a menor consciência dela para com ela mesma, da sua função no mundo, pessoas vazias de significados, que acabam por buscar mecanismos de auto-afirmação visando confirmar sua existência, que infelizmente se valem dos principais problemas entre os docentes de hoje em dia, drogas, vicio, bulliyng, incapacidade de se adequar a mudanças, psicose, paranóia entre tantas coisas relacionadas a uma mentalidade programada de um robô. Ou seja, as coisas que eu acabei de citar são os efeitos colaterais da conversão do ser humano em maquina, uma geração de pessoas que tem explosões de sentimentos, sem a menor capacidade de gerir suas próprias emoções, resultando assim em uma sociedade que sofre de psicopatia coletiva.

Tá mas, isso tudo foi acerca das escolas particulares, os grandes empresários da educação. Sim, eles são tão apagados e estão à margem de forma que nem lembramos deles, já que se você está lendo isso de um computador privado, provavelmente você faz parte de uma elite que nunca nem chegou perto de uma escola publica contemporânea. Então, as escolas particulares e sua lógica capitalista ferrenha, são os principais responsáveis pelo descaso do governo para com a escola Pública, eles querem que seja assim, para que, ainda que seja via bolsa ou divida o aluno dessa escola publica mude para a dela e de resultado. Ou seja, é preciso SIM que a escola publica não preste! Eles QUEREM que ela não preste! Mas, e os que não podem? Os que não podem se matam. Ou de estudar ou de verdade, mas a segunda opção não é muito aceita, diferente desse bando de riquinhos de emoções esclerosadas, pobre geralmente se vira e faz muito do pouco que tem. Porém, essa maquina devoradora chamado escolas particulares, acabou gerando um outro problema social preocupante. Os alunos de escolas publicas, simplesmente não acreditam mais que são capazes de passar em uma prova de vestibular e por conta disso esses nem chegam a tentar, criou-se no intelecto dessas pessoas que elas são simplesmente incapacitados, gerando assim uma massa populacional de alunos desacreditados de seus potenciais, perdendo até mesmo a motivação de ir para a escola, pois, os professores mal pagos, também sofrem dessa falta de estimulo e por conta disso, dificilmente aparecem, só que a União precisa manter a imagem de IDH ascendente para o mundo, afinal ser G20 é uma grande responsabilidade global, então exigem de seus Estados um baixo índice de reprovamento, aí, não interessa como esses alunos, estejam eles, preparados ou não, tem que passar nas provas. Então, quando estes tomam coragem de aparecer, passam trabalhos imbecis só para garantir esse indice de aprovação "elevado", afinal, é uma exigência da União via MEC. E esses alunos TEM que passar. Essa massa de jovens ficou sem ter como recorrer para ter um nível superior, logo, os que já não trabalhavam antes, pasaram a trabalhar cedo, foram seguir carreira de vendedor de loja de departamento no Shopping com a grande ambição de um dia tornarem-se gerentes das mesmas lojas. Um trabalho que deveria ser temporário, virou motivo de grande disputa por vagas, onde vale tudo, incluindo sabotar seu colega. Porém, o Brasil está passando por uma fase de mudanças, nossa população economicamente ativa é de jovens, e o Estado precisa dessa galera produzindo para o PIB subir cada vez mais, então, tornou-se necessário criar condições de acesso do jovem as universidades, mas depois de tudo isso exposto e da confusão gerado quais foram as saídas possíveis? A unica saída foi uma serie de políticas publicas que incluiam o estimulo para as universidades particulares, e para quem não poderia pagar por um curso de nivel superior poderiam apelar para os créditos universitário e as bolsas, mas apenas isso não adiantava, pois ainda assim esses alunos continuavam incapazes de competir com os gigantes, então criou-se as cotas, mas também não adiantou tanto, e assim foi necessário uma medida que estimulasse o aluno a desejar o nível superior e o obrigasse a se submeter a uma prova onde existisse probabilidades dele conseguir alguma coisa ou vantagem e que ao mesmo tempo service para medir como anda o nível desses alunos do ensino médio no país como um todo, se essas aulas vão bem ou mal, e onde estão as principais falhas, para um dia, quem sabe, corrigir esse gravíssimo erro. Nasce assim o ENEM, para a alegria dos cursinhos de Pré Vestibular...